No ônibus tudo parece meio difuso, a variabilidade de cores, de estilos, de formas e desenhos está ali. Tudo se mistura, tudo se confunde, o preto com o pink, o laranja com o verde...
Alguns se encaram talvez tentando decifrar o que se passa na cabeça da pessoa, talvez apenas pensando no quão diferente o outro parece. Eu observo, não os detalhes, não vejo o tamanho do salto, a cor do cabelo, o comprimento do da saia, tampouco os rotulo, olha o punk, o gay, o doido, eu observo o que não tenho certeza de que está ali, o que não sei, não sei se ele veio da escola ou se vai pro shopping, não sei onde estão seus pais ou seus amigos, muito menos sei seus gostos.
No caminho me fecho na minha pequena redoma, me escondendo do mundo de cores e sons, pra isso uso meus fones e um livro. Essa tão util redoma também serve pra me proteger dos problemas que assolam minha vida. Sim, eu fujo com toda a dignidade em meu coração, fujo das cores cinzas e pálidas, da dor iminente, da palavra que ainda não foi pronunciada. Fujo de um mundo injusto, de um mundo que me enjoa, enoja...
Mas no ônibus é onde os destinos se cruzam, você não conhece as pessoa e as pessoas não te conhecem, elas estão ali por motivos variados, a única coisa em comum é que querem algo, todos estão em busca de alguma coisa, seja um "felizes para sempre", dinheiro, amor, todos querem encontrar algo que supostamente lhes trará a felicidade. Será que existe tal felicidade?
Quando levanto os olhos do livro, a cena mudou, alguns personagens se foram e outros ocuparam seus lugares, novas combinações de cores, azul com amarelo, vermelho com roxo... Os sons ao meu redor insistem em penetrar na redoma, mas chegam até mim como ruídos incompreensíveis que ignoro prontamente... O lugar também já não é o mesmo e às vezes me sinto meio perdida, com medo de ter passado do ponto me concentro na janela procurando um pontinho qualquer que me indique onde estou.
Já perdi o ponto algumas vezes e isso realmente é um atraso de vida, sem contar a sensação de pânico que começa a me dominar, apesar do meu orgulho não deixar transparecer, qualquer um que passasse por mim veria uma menina/mulher (não sei) indo para o seu destino. O ruim de perder o ponto é que não dá pra voltar atrás, é como um erro que você poderia ter impedido de ter acontecido, mas no último minuto mudou de ideia, os cinco minutos que te fazem perder a hora, aquela questão que você mudou na hora de passar pro gabarito.
Olhando pela janela, me perco no mundo lá fora, vejo os lugares e as pessoas, os carros que passam e seus motoristas e acompanhantes, talvez veja algum animal, um cachorro ou uma pomba, algumas árvore e arbustos completam a paisagem, durante o dia as nuvens chamam atenção refletindo a luz do sol e a noite as estrelas preenchem o céu. O conjunto forma um bonito quadro, vivo e em movimento, às vezes procuro por pessoas conhecidas, mas geralmente não obtenho sucesso e vez ou outra vejo alguém parecido.
Agora estou sentada no ônibus tem vezes que isso é relaxante em outras apenas me sento por sentar, tentando evitar um cansaço vindouro, o quadro vivo emoldurado pela janela está ao meu lado e fora da minha redoma as pessoas seguem suas vidas passando por inúmeros ônibus, buscando seja lá o que for, passando por cima dos destinos umas das outras, perdendo o ponto ou simplesmente seguindo a rotina, e nem sempre prestando atenção nas pessoas ao seu redor, ou como eu apenas se escondendo delas.


Um Comentário

  1. "O ruim de perder o ponto é que não dá pra voltar atrás, é como um erro que você poderia ter impedido de ter acontecido,"

    Não sei se foi a intenção, mas o texto está profundamente filosófico. Isso é bom.

    Gostei =D

    Bjs

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