Ofegante se sentou na cama. Os cabelos estavam desgrenhados, fruto do esforço desesperado da busca. "Onde está? Onde pode estar?", as perguntas giravam em sua cabeça, assim como as acusações de desastrada, idiota, estúpida, perder algo tão importante como aquele caderno, onde ela andava com a cabeça?

A capa era roxa, dentro havia o pedaço de um mundo, uma vida, desde a mais simples felicidade até dores que qualquer coração pode sentir, tudo o que não era dividido com mais ninguém estava ali, simples folhas de papel, mas guardavam tanto significado...

Segunda-feira era um dia terrível, mas Alice descobriu que após um final de semana horrível, uma segunda-feira poderia ser pior.  Não conseguira encontrar seu caderno em lugar algum e ficou tão ocupada com isso que sequer lembrou da prova de matemática, não tinha nada de bom nesse dia.
Nem mesmo prestou atenção as conversas, queria saber o que aconteceu com seu caderno e mais nada. Na volta pra casa, sentou-se no ônibus e  fechou os olhos se concentrando na música, apagando todos os outros pensamentos, tentando encontrar um motivo pra sorrir no meio de tudo que estava acontecendo nas últimas semanas.

Ela não viu quando ele entrou no ônibus, nem mesmo se deu conta de que haviam sentado ao seu lado. Estava naquele estado em que apesar de acordada a pessoa parece estar a galáxias de distancia ou em uma dimensão qualquer perdida no tempo e espaço.
Ao contrário, ele estava totalmente consciente da  presença dela e notou cada detalhe, o tênue perfume que ela exalava, o rabo de cavalo despenteado e as olheiras e o ar grave que mostravam todo o cansaço. Ele sentiu uma enorme vontade de abraçá-la e ampará-la como se faz com uma criança, mas não se atreveria a isso.

Ela abriu os olhos, apesar de não ter vontade de ir pra casa, sabia que não tinha escolha e focou-se na janela em busca de uma referência. Quando dirigiu seu olhar para a janela do outro lado algo chamou sua atenção, a pessoa sentada ao seu lado segurava um caderno roxo, imediatamente  seu coração disparou, levantou os olhos e deparou-se com uma imensidão verde que pareceu absorvê-la. Levou algum tempo pra perceber que ele lhe dirigia um sorriso, junto com o caderno de capa roxa.

Tudo o que ela conseguiu fazer foi pronunciar um sussurro de agradecimento, subitamente se levantou e deu sinal para o ônibus parar, Ricardo ficou aturdido com a reação da garota, mesmo assim não despregou os olhos dela. O ônibus parou, mas antes de descer ela fixou os olhos nos olhos dele e sorriu como a muito tempo não se permitia. Depois percebeu que mesmo na chuva ela poderia encontrar um motivo pra sorrir.


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