A chuva caía em pingos grossos contra a janela. A semana toda fora assim, chuvosa e triste. Nessas horas morar em uma cidade tão grande era terrível, principalmente devido ao trânsito e aos ônibus ainda mais lotados.
Essa última semana havia sido tão triste que lhe parecia que até mesmo as cores estavam apagas, desbotadas, talvez fosse por causa de chuva. Mas, Alice sabia que não tinha tempo para pensar nisso, deu uma última ajeitada nos longos cachos e foi para a cozinha.
Cinco minutos depois ela já atravessava a rua em direção ao ponto de ônibus habitual e seguir sua rotina, mal sabia ela que sua rotina não seria mais a mesma.

Chegou ao colégio e tudo correu normalmente, as aulas chatas, conversas animadas e finalmente o último sinal, hora de voltar pra casa. Sentou-se no ônibus com seu fones de ouvido tocando uma música qualquer a qual ela não prestava atenção, seus pensamentos estavam longe, distantes. Foi nesse momento que ele entrou.
Mais tarde ela se perguntou inúmeras vezes o que lhe chamou tanta atenção nele, talvez os músculos sob a camiseta branca, talvez os cachos que lhe davam um ar doce ou os olhos verdes intensos e brilhantes, capazes de hipnotizar.

Ele sentou ao lado dela e sentiu o coração sobressaltar-se quando os braços se roçaram e um arrepio percorreu seu corpo. "O que essa garota tem que fez meu corpo reagir ao mínimo toque?" se perguntou.

O perfume que ele exalava era delicioso e fez seu coração disparar, o que era estranho, ela nunca reagia assim aos garotos, sempre pareciam idiotas e não lhe despertavam interesse. Mas por algum motivo ela sentia que ele era diferente de qualquer um que ela havia conhecido até ali. Confusa com a quantidade de pensamentos que lhe assolavam ela concentrou toda sua atenção na janela e na paisagem que  passava por ela e, surpresa, notou que havia parado de chover, decidiu então ir ao seu lugar favorito, uma praça onde, apesar de movimentada, ela podia se recostar em uma árvore e pensar.

Aproximava-se a hora de descer, Alice organizou as coisas que levava na mão e sua mochila, aguardou. Percebendo a movimentação da garota, Ricardo se reprendeu pela falta de coragem e apressou-se a levantar dando passagem dirigindo-lhe um sorriso acanhado.
A menina levantou e se encaminhou para a porta, não levantou os olhos em direção ao rapaz em nenhum momento, apesar dele não tirar os olhos dela. E em segundos intermináveis ele a viu partir.


Continua...


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