"Eu vejo um horizonte trêmulo
  Eu tenho os olhos úmidos
  Eu posso estar completamente enganado
  Eu posso estar correndo pro lado errado"
Sentiria falta daquela janela, companheira de infância, de onde ela observava todo o movimento da rua, onde se sentava e via o sol poente ou simplesmente sentia  a brisa. Olhando pro quarto estranhou, suas coisas encaixotadas ou dentro das malas não estavam à vista e por um momento aquele era um quarto de um estranho, o único indício da sua passagem por ali era a flor lilás colada na parede, a única coisa que mostrava que aquele quarto havia sido de uma menina, mas não havia mais menina, então não haveria mais quarto.

Malas prontas, tudo preparado, dias de correria recompensados pela visão de tudo pronto, depois de dias se organizando, chegara o grande dia, o dia da partida, mais um passo a ser dado, era hora de seguir em frente. Mas agora que seus sonhos estavam tão próximos de se realizar, a euforia havia passado e um misto de sentimentos a dominava, principalmente medo, insegurança e tristeza...

Mas ela sabia que levaria todos esses sentimentos na mala e como já havia carregado-os por muito tempo, o peso lhe era familiar. E com essa sensação, de estar sobrecarregada, de levar mais pesos do que seu coração suportaria em circunstancias normais, ela entrou na rodoviária. Observando as cores e os ruídos, que sempre lhe incomodaram, afinal pra que tanta cor e tanto barulho juntos? Pra que tanta luz? Mesmo assim forçou-se a olhar, pois talvez fosse a última vez que iria ter a chance de criticar aquilo tudo... E sabia que sentiria falta.

Em um piscar de olhos e ela estava de frente para o ônibus que a levaria para uma nova vida, um novo lar, um novo começo. Um desconforto crescente dominava seu peito e se espalhava para o resto do corpo. Quando se deu conta as lágrimas grossas já rolavam pelo seu rosto e o desconforto aumentou e se tornou uma dor enorme em seu estômago, às vezes as escolhas que fazemos nos levam por caminhos que nunca pensamos percorrer e assim passamos por encruzilhadas, bifurcações e atalhos, nem sempre vale a pena, mas se você não se arriscar não poderá nem mesmo dizer que tentou e o tentar, parece, a parte mais importante.

O que veio em seguida foi uma combinação de tortura e alívio, abraços, beijos e lágrimas era só isso de todos os lados, as pessoas mais especiais para ela estavam ali, as pessoas mais importantes que ela ficaria muito tempo sem ver e outros que talvez não veria mais. Porque não tinham dito que seria tão difícil e tão dolorido dizer Adeus? Mas então veio o perfume, aquele perfume que a deixava inebriada desde a primeira vez que havia entrado em sua vida, em seguida viram os braço e em seguida ela estava de frente para olhos tão negros, os olhos que podiam enxergar sua alma, mais abraços, beijos e lágrimas, ele estava chorando tanto quanto ela, era a primeira vez que ela o via chorar.

A hora do ônibus partir se aproximava, o tempo resolveu correr derrepente e o que ela mais queria era ficar, queria que ele a segurasse pelos braços e dissesse para ficar, dissesse que tudo o que tinha acontecido tinha ficado no passado e que o lugar dela era ali ao lado dele. Não houvera nenhuma palavra, a porta do ônibus se abriu e quando ela estava apenas há um passo de entrar, uma mão se fechou em seu pulso e ela manteve-se imóvel, sentiu a proximidade do corpo dele, mas mal podia controlar a respiração.

"Eu te amo", ele disse e o coração dela deu um salto, "Por isso tenho que te deixar ir, mas espero que não seja um Adeus e sim um Até breve", enquanto ele a soltava e se afastava o corpo dela tremia. As escolhas já haviam sido feitas e o caminho que ela escolhera estava a frente, sim era hora de continuar.


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