A estranha do espelho me encara.
Os olhos são familiares, lá no fundo posso ver o brilho que um dia conheci, o cabelo tenho certeza que não é o mesmo, lembro vagamente que ele parece mudar muitas e muitas vezes, tantos detalhes em tão pouco, maçãs do rosto, teta, sobrancelhas, a covinha do queixo... Mas o que acaba por me chama a atenção são as olheiras profundas que dão um ar de tristeza e cansaço...
A estranha do espelho me observa.
Vejo que o tempo passou tão rápido, ou talvez apenas pareça, 1 ano ou 10, qual a diferença?
Tudo muda e isso nunca mudará! Sim está ali, eu sei que mudou, mas não posso fazer nada além de observar as marcas de tantas mudanças...
Sei que os olhos da estranha são meus próprios olhos, e queria que não fosse, vez ou outra eles adquirem um ar frio e distante, às vezes tornam-se duros ou tristes, fardos muito grandes para um simples olhar. Mas não esqueço que eles tiveram um ar divertido e despreocupado, sinto falta da aurora infantil que enfeitava esse semblante e o consolo que me resta é saber que algumas vezes ainda poderei ver uma réstia dela.
A estranha do espelho me sorri.
Bem, já que o tempo já passou, que não posso voltar atrás ou mudar o que já foi, conformo-me com o que tenho e deixo de lado os sofrimentos e pesares, porque muitos ainda virão e não serei eu a carregar os fardos sozinha.
Simplesmente viverei, seguirei o caminho que a vida me indicar ou aquele por onde meus pés me levarem...


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