O vazio era imenso,
tão grande que parecia que um buraco negro havia sido aberto em seu peito, a
sensação de dormência se espalhava por todo o corpo e já sabia que nem mesmo as
lágrimas bastariam nesse momento... Ah como desejava que esses momentos não acontecessem
nunca, mas a montanha russa que eram os seus sentimentos tinha vontade própria
e quando despencavam ela se tornava apenas uma observadora da queda livre no
abismo...
Quando chegava ao
fundo do abismo ela já sabia o que aconteceria como um roteiro antigo que você
decora depois de muitas repetições, primeiro os pensamentos se acumulam e tudo
fica cada vez mais confuso, em seguida vem o que ela apelidou de lama, sentia como
se todas as coisas ruins presentes nela surgissem em forma pegajosa e grudassem
em sua pele, ela se sentia imunda, o pior de todos os seres como se
absolutamente tudo nela fosse feito de maldade...
Então vinha o
pranto, um choro desesperado que fazia o corpo inteiro se contrair, a garganta
e o nariz ficarem congestionados e a cabeça ter um latejar incessante e mesmo
quando não restasse mais forças para chorar o latejar continuaria por horas até
a respiração normalizar e ela cair no sono, mas não um sono reparador, um sono
atormentado por sombras onde não há espaço para descanso...
A claridade invade o
quarto, já passa das onze da manhã e o sol que entra pela janela reflete em
seus cabelos espalhados no travesseiro, um observador acharia a cena bonita,
talvez seja o calor do sol ou os sons da rua que a fazem despertar quebrando o
encanto, mesmo tentando se ater ao mundo dos sonhos ela imerge aos pesadelos
reais. Assim que os olhos se abrem a cabeça dói e a impressão que tem é de ter
batido a cabeça na parede a noite toda, mas ela sabe que é só o efeito do choro
e do álcool, depois de muito esforço levanta-se tropeçando nos lençóis e vai em
direção ao banheiro largando as roupas amassadas e suadas pelo caminho.
O banho é longo e reconfortante, a água quente escorre pelo seu corpo apagando os vestígios da noite anterior, encosta a cabeça contra o azulejo frio da parede tentando amenizar o pulsar nas têmporas e reorganizar os pensamentos, ou melhor os sentimentos.. De repente ela nota que ainda se sente muito frágil, tanto sentimentalismo pesava em suas costas e quando deu por si já estava encolhida no chão do banheiro soluçando, esperou até sentir que não havia mais nada em si, lentamente deixou o vazio se expandir pelo seu corpo, revestindo cada pedacinho novamente, afinal era apenas mais um buraco para a sua coleção...