Ele dormia profundamente e por alguns segundos ela teve medo de se movimentar e quebrar o encanto daquele momento. Permaneceu de olhos fechados utilizando os outros sentidos para absorver cada segundo daquele momento, já estava acostumada com o perfume que ele exalava, sentia o movimento de seus tórax sincronizados, ouviu o som do ar entrando e saindo e os sons da manhã longínquos, o calor que emanava da pele dele era o  que a mantia aquecida. Por alguns segundos se perdeu nessas sensações até relaxar e cair novamente no sono.
Acordou num sobressalto, a cama ao seu lado estava vazia e a janela entreaberta mostrava que era um lindo dia de sol, tomou um banho rápido e vestiu a primeira camisa dele que encontrou, desceu as escadas devagar e o encontrou na sala, jogado no sofá, prestando atenção em algum documentário que passava na TV, ela sentou-se ao lado dele e pela força do hábito ele a puxou para mais perto envolvendo-a carinhosamente, ela deitou a cabeça em seu ombro e relaxou o corpo, naqueles braços era onde se sentia uma sensação indescritível de segurança como se nada pudesse alcançá-la ali...
Ela não se considerava romântica, não esperava receber flores e bombons ou que ele sempre abrisse a porta do carro, mas aos poucos foi descobrindo que o romantismo pode estar no carinho e no respeito que ele demonstrava num abraço ou naquela forma tão única que ele tinha de fazer seus corpos se encaixarem perfeitamente... Ela se pegou relembrando seus relacionamentos anteriores e (mesmo achando errado) se viu comparando, apenas para constatar que ele foi o único que fazia com que ela sentisse o mundo se encaixar... Talvez fosse isso afinal, ele sabia fazer as coisas se encaixarem,  sabia fazer seu mundo parecer seguro e completo, passou o resto do dia imersa nesses pensamentos, imersa nas lembranças...

Lembrou-se daquela primeira noite, o sono demorou a vir e as imagens rodavam em sua mente, as sensações recém vividas ainda percorriam por seu corpo, como se cada simples toque queimasse em sua pele. Só de lembrar do momento em que seus lábios de encontraram pela primeira vez sentia algo se agitar dentro de si enquanto sua pulsação acelerava, começou a recordar os acontecimentos do dia. Ela tinha certeza que cada segundo ficaria sempre gravado em sua mente, podia reviver quadro a quadro o melhor dia de sua vida, onde mundo não poderia estar mais belo...
Caminhava pela rua sorrindo sozinha e cantando a música que tocava alto em seus fones, até o calor do sol parecia na medida certa, será que estava vivendo a cena de um de seus filmes favoritos? Antes ela não acreditava nesses sentimentos tolos, nesse riso sem motivo, nessa coisa de borboletas no estômago que os romances descrevem, sempre acreditou que esse tipo de coisa "não era pra ela", aqueles amores dos seus livros favoritos não acontecem fora de suas páginas, mas ele aconteceu...

Ele não era o típico playboyzinho, nem o rebelde sem causa e nem de longe se pareceria com um mocinho do cinema, ele era um cara normal, desses que não chamam muita atenção e parecem que nunca fizeram nada de extraordinário, mas que trabalham e estudam mesmo que ainda não saibam onde vão parar... Nisso eles eram parecidos, mas na maioria das coisas eram contrários, talvez até contraditórios, havia momentos em que ela deixava o silêncio preencher o espaço entre eles, simplesmente não sabia o que dizer, tinha medo de parecer tola demais, a verdade é que nunca foi muito boa em puxar assunto, mesmo assim a companhia dele era acolhedora e só de estar perto dele ela se sentia completa, muitos dizem que os opostos se atraem mas ela descobriu que às vezes você precisa de alguém que te complete.

Depois de muitas reflexões decidiu parar de pensar em tudo aquilo, geralmente quando pensava demais em algo as coisas costumavam dar errado, então parou de pensar e deixo apenas que os sentimentos tomassem conta de si. Percebeu que estava apaixonada e sabia que naquela altura era irremediável, mas o que tem demais em esquecer um pouco dos problemas diários dentro de um abraço que fazia o mundo parecer mais correto? Qual o problema de ter um sorriso acolhedor? Nenhum. Na verdade quando alguém te completa, todos os problemas desaparecem.
Ela notou que ele tinha o sorriso mais bonito da cidade e o senso de humor de um comediante de quinta categoria, mesmo assim ria de suas piadas ruins, ele é do tipo que realmente se preocupa quando ela diz que tudo está uma droga e que quer fazer o mundo dela cada dia mais bonito... Então ela notou que estava presa num grande clichê, como se a sua grande história de amor fosse mais um filme da sessão da tarde, mas ela não se importou nem um pouco, quis mesmo aproveitar cada segundo do brilho no olhar ao cafuné, não quis se privar da felicidade de ter alguém que a fizesse sentir borboletas no estômago.


2 Comentários

  1. Que texto lindo, Bia. Mais do que nunca, eu hoje acredito que quando é pra ser, pode passar o tempo que for, mas o destino dará um jeito de juntar as pessoas.

    Não ter medo de se jogar em um relacionamento é a primeira coisa que a gente tem de colocar na cabeça. Às vezes tudo pode parecer perfeito demais, do tipo que a gente fica boquiaberta, e o que temos que fazer é seguir em frente e descobrir se aquilo ali vai pra frente mesmo ou vai acaba logo, logo.

    Se é real ou não, não importa. O importante é que o texto motiva a gente a não ter medo de aproveitar os momentos.

    Gostei muito! <3

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    1. Ahhh obrigada pelo carinho! *------*
      Que bom que gostou! ;)

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