Acordou com o som da chuva batendo forte na janela ou talvez fosse apenas o frio, melhor, a ausência do calor de outro corpo, a falta que fazia receber um carinho enquanto ouvia a chuva cair lá fora... Nem mesmo sabia dizer quanto tempo fazia desde a última vez, desde o último aconchego, a última troca de olhares cheia de amor e paixão. Mesmo assim a chuva trouxe de volta as lembranças, os sonhos compartilhados e as sombras que sobraram, como se todo o tempo estivessem ficado presas na imensidão do céu, e agora como por encanto libertas para se derramar por entre as frestas da janela e inundar seu sono...

Ainda sentia seu corpo arrepiar ao se lembrar de um simples toque na pele ou mesmo da suavidade que poderia ter em um beijo, ouviu a chuva cochichando todos os seus segredos e permitiu-se, depois de tanto tempo, sentir, sentir e sentir, uma enxurrada de sentimentos a muito tempo represados e guardados nas profundezas de seu coração fundiram-se em um só sentimento, um ao qual jamais saberia nomear e nem mesmo saberia descrever.

Deixou os sentimentos escoarem, tão frios quanto as gotas da chuva e tão velozes quanto o vento que se ouvia, deixou eles rolarem com força de um rio bravio ou da ressaca do mar. Deixou a chuva lavar sua alma e extirpar cada pedaço que ainda estava impregnado com o medo. Deixou os sentimentos livres para poder encontrar a própria liberdade, sem perceber havia se tornado refém do próprio coração ferido e do que ali queria manter trancafiado, esqueceu-se que os sentimentos ruins devem ser deixados para trás e os bons compartilhados...

Abriu as janelas e esperou pelo amanhecer, sentiu no vento ainda o cheiro da chuva e o seu frescor, inspirou fundo, sentiu o ar preencher e revitalizar seu corpo, inspirou novamente, como nunca havia feito antes, inspirou o mais forte que conseguia e sentiu a leveza que havia dentro de si, os grilhões haviam sido quebrados, não havia tristezas ou mágoas, nem outro sentimento negativo, mas uma enorme e crescente esperança que despertava junto com nascer do sol.


Deixe um comentário